Zumbis, Youtube e Crack: mas que merda é essa?

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Campanha publicitária compara usuários de crack com zumbis e chamam os maiores canais do Youtube para promove-la.

Como soco na boca do estômago de todos os antiproibicionistas, eis que é lançado um “filme” (mais pra uma  peça publicitária) que vai fazer todos se arrepiarem, mas não é pelo terror. Promovido principalmente pela Associação Parceria Contra Drogas (mas com a colaboração de diversas outras entidades) e produzido pela Master Roma Waiteman, o novo filme faz parte de uma campanha contra o uso do crack e tem uma qualidade visual digna de um oscar, não fosse pelo péssimo roteiro.

São 4m35s de puro alarmismo, desinformação, preconceito e má fé. Comparando os usuários de crack à zumbis, a história fictícia simula uma epidemia de um vírus mortal, que no caso é o uso do crack. Todos começam a ser “infectados” e destroem suas vidas. Os atores foram rigorosamente maquiados para ficarem com aspecto de um zumbi, que tem por unica finalidade fumar crack. O vídeo é basicamente feito dos depoimentos dos “zumbis”, envolvendo vários personagens diferentes. No final ainda dizem que os depoimentos são verídicos de usuários de crack reais, porém cabe à sua consciência acreditar em uma campanha publicitária ou não.

O impressionante e aterrorizante neste vídeo são as falácias, os preconceitos, o senso comum e a desinformação expressada. Pare para fazer uma breve analise, e perceberá que este é um dos maiores golpes já dados pelo proibicionismo no Brasil, mas na verdade um golpe de medo – como se fosse um animal acuado. Maior golpe no sentido de alcance e repercussão. Veja bem, nos últimos anos a tenologia se desenvolveu numa proporção jamais vista. Hoje qualquer um consegue rodar no celular um vídeo no Youtube, coisa que era um processo lento e demorado se feito de um PC há poucos anos atrás. As redes sociais viralizam a informação numa velocidade assombrosa. O senso comum predomina em todas as classes. Em um país onde a ignorância sobre as drogas e políticas alternativas representa 75% da população, um vídeo desse arrepia qualquer ativista antiproibicionista.

Mas também é possível sentir um tom de pânico dos proibicionistas. Em um momento em que vários países ao redor do mundo estão repensando suas políticas de drogas, eis que vem a turma do Osmar Terra, Laranjeira e companhia com essa inspiração artística. Isso é um claro temor de que o Brasil seja influenciado pelas alternativas gringas. Um exemplo desse temor é a viagem do próprio Osmar Terra pra pentelhar na política do nosso vizinho Uruguai. Suíça, Jamaica, Uruguai, México, Itália, Alemanha e Marrocos são alguns dos países que estão em processo de mudar suas políticas de drogas e as entidades da proibição brasileira logo trataram de tentar se prevenir. Assista ao vídeo e reflita por uns instantes:

 

 

Há tempos que se discute a necessidade de dinheiro e engajamento no ativismo pelo fim da proibição (seja da maconha ou qualquer droga), e este vídeo chega pra mostrar que realmente isso faz uma grande diferença. Não existe nenhuma produção semelhante feita pela Marcha da Maconha, por exemplo. Foi gasto um bom dinheiro pra que este vídeo fosse realizado, ou no mínimo engajamento no sentido de poder contar com a colaboração de fortes parceiros que possam ter viabilizado a produção – como a produtora O2 Filmes.

Mas talvez a melhor sacada deles tenha sido a colaboração dos principais canais do Youtube como o Mas Poxa Vida, 5inco Minutos e Paramaker para ajudar na divulgação e produção da campanha. Por volta das 5 horas da manhã de hoje, o vloger PC Siqueira subiu um vídeo em seu canal no Youtube, onde explica a campanha e a necessidade de se combater o crack. Talvez a intenção até tenha sido boa, mas como qualquer celebridade de massa, pouco entende do assunto e pecou por aliar-se ao lado negro da força.

O vídeo “Zombie – A Origem” é um projeto da agência Master Roma Waiteman foi veiculado em 60 salas de cinema, no Brasil, e em seguida viralizado pelas redes sociais. Foi postado no dia 29 de novembro (há seis dias) e já computa mais de 280 mil visualizações. A página do Facebook que teve sua primeira postagem no dia 16 de novembro, já tem mais de 15 mil seguidores. Esse número deve duplicar, ou triplicar nos próximos dias, com a ajuda da divulgação de PC Siqueira (que possui quase 1,5 milhão de inscritos em seu canal). A vloger Kéfera Buchmann, que tem mais de 2,5 milhões de inscritos já fez sua colaboração para o proibicionismo e também fez um vídeo apoiando a campanha. Na verdade essa é uma mobilização da Paramaker (antigo Parafernalha), que diz ter conseguido apoio de mais de 50 canais. Infelizmente esta foi uma flecha lançada da qual eles vão ter que amargar um certo arrependimento no futuro.

 

 

 

 

Diferentemente Cauê Moura, outro famoso vloger, que fez um vídeo excepcional falando sobre a maconha e seus mitos, esses canais se deixaram levar pelo senso comum e deram um belo tiro no pé. Um problema será se Cauê, seguir a empolgação de os canais e vlogers (o que parece que está pra acontecer), e também fizer um vídeo de apoio para a campanha e postar em seu canal com 2,4 milhões de inscritos.

 

 

A solução para a questão do crack esta na informação e regulamentação, campanhas de prevenção sim, mas tratamento de qualidade para usuários é fundamental também. As clínicas evangélicas estão no topo do negócio do crack, são talvez as que mais lucram ao lado dos traficantes. É como nosso amigo professor da Unicamp, Luís Fernando Tófili disse em um artigo do Estadão uns meses atrás:

“Ao contrário do que muitos acreditam, os consumidores de crack não são zumbis. Eles querem se tratar, têm desejos, apresentam uma trajetória de vida e problemas pessoais específicos. É o que mostram as respostas dadas na pesquisa nacional. Flexibilizar o estereótipo do consumidor foi importante, porque ajuda a compreender como o tratamento deve considerar a complexidade de cada um dos indivíduos submetidos a tratamento. Soluções em pacote, generalizantes, acabam dando pouco resultado.

Também é importante saber que 80% querem tratamento porque ajuda a desmontar o discurso dos que defendem a internação à força. O endurecimento das ações políticas, como mostra esse resultado, não faz nenhum sentido.

A concentração do consumo do crack no Nordeste levanta ainda outra questão. Será que existe, de fato, uma epidemia de crack? Ou, na verdade, ocorre uma epidemia de privação social? O crack é uma droga fortemente ligada à pobreza. O consumo pode revelar um agravamento do quadro social.”

O buraco é muito mais embaixo, os problemas na verdade não advêm do crack e sim de fatos vivenciados anteriormente pelos usuários. Abandono, descaso, problemas sociais e familiares, tudo isso contribui para que o crack seja encarado como uma válvula de escape para aqueles que assim desejam.

Uma mudança na atual política de drogas é a única solução do problema do crack. A regulamentação das drogas, a descriminalização do usuário, o fim de políticas de internação compulsória e tratamento de qualidade baseados em ciência e estudos científicos devem ser os pilares dessa solução. Pra quem não lembra, segundo um estudo da Unifesp, liderado pelo Dr. Dartiu Xavier, a maconha pode ser a porta de saída para o crack. Imagine o benefício para a causa, se esses canais todos resolvessem fazer um vídeo falando sobre esse estudo do professor Dartiu? A repercussão também seria fenomenal.

Vale lembrar que esse vídeo fala de crack, mas respinga demais na questão da maconha. A conexão entre crack e maconha é expressada de uma maneira muito mais forte do que entre o crack e a própria cocaína da qual ele é feito. Conte e verá que a palavra cocaína aparece duas vezes no vídeo, enquanto maconha é repetida três vezes. O garoto zumbi lança o jargão “Eu comecei na maconha…”; uma mulher zumbi repete exatamente a mesma frase “eu comecei fumando maconha” .. e depois “…até que eu conheci um namorado que me presentou o crack…”; por último tem um homem zumbi começando seu depoimento “Eu fumava maconha, só pra mim relaxar, até que um dia um traficante botou uma pedrinha dessa num bagulho que eu comprei”. Foram editados propositalmente como os três últimos depoimentos do vídeo, para dar a impressão de repetição e ficar fresco na memória do receptor.

É por conta de detalhes como esses, que precisamos ficar muito atentos à repercussão deste vídeo. Se for um sucesso, podem surgir novos episódios da saga ou novas celebridades podem querem promover a campanha, ou até mesmo pode ser exibida na televisão. Aqueles que desejam mudanças precisam se agilizar, fazendo parcerias certas e buscando investimento para campanhas de nível e alcance. Do contrário podemos ficar a mercê do proibicionismo e só ver o céu clarear quando os EUA concretizarem a sonhada legalização federal.

Se o senso comum continuar a ser lustrado com produções como esta, é certeza que continuaremos a viver tempos sombrios de um proibicionismo irracional e ignorante. Talvez os zumbis na verdade sejam eles, os proibicionistas.

 

Legalização da maconha divide opiniões no Brasil

Los Angeles To Not Enforce Ban On Marijuana Dispensaries

Enquanto no Uruguai a regulamentação virou política pública, no Brasil a discussão está longe de receber impulso oficial.

Enquanto no Uruguai a regulamentação da maconha ganha tratamento de política pública, no Brasil a discussão está longe de receber impulso oficial. Mas o assunto ganha as ruas, e a força do antagonismo entre prós e contras também. Os dois lados são capazes de enxergar perspectivas completamente opostas em relação, por exemplo, ao futuro do tráfico de drogas. Um comércio estruturado desmantelaria os pontos de tráfico ou reforçaria a venda paralela, que fugiria dos impostos? Essa é uma das incertezas.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tornou-se um paladino da liberação, com manifestações em artigos, palestras e programas na TV. FH também foi um dos primeiros a declarar adesão à política oficial de drogas na iminência de ser adotada pelos uruguaios.

O maior temor das vozes que tentam desestimular abordagens inspiradas na iniciativa inédita do governo José Mujica é a possível amplificação de um problema de saúde pública. O acesso facilitado cria as condições para viciar um número maior de pessoas (veja os números do consumo no Brasil no quadro abaixo) e abre as portas para o envolvimento de um número maior de usuários com drogas mais pesadas. Críticos como o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp), definem a iniciativa como “aventura” com consequências imprevisíveis para a saúde pública.

A presidente Dilma Rousseff teria coragem de colocar o tema sobre a mesa? A resposta foi dada pelo próprio Mujica, em entrevista que concedeu a Zero Hora na terça-feira:

– Ela (Dilma) tem muito medo pelas dimensões do Brasil. Não vê outro caminho a não ser reprimir, agora.

Conheça argumentos de quem defende e de quem rejeita um teste como o uruguaio no Brasil:

POR QUE NÃO

Porta de entrada para outras drogas, a maconha legalizada impulsionaria o consumo de entorpecentes no Brasil, em um movimento capaz de fortalecer redes de traficantes e impactar a saúde pública – principalmente entre os mais jovens. Em resumo, este é o argumento das vozes que se posicionam de forma contrária a qualquer projeto semelhante ao proposto no Uruguai.

Falamos de gente já conhecida em debates sobre o tema, como o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp). Ao traçar um paralelo com a experiência uruguaia, ele define como “uma aventura com a próxima geração”, uma espécie de experimento social sem a assinatura de termo de consentimento. Em português mais explícito, é como se a população se tornasse cobaia de um mercado estatal. Se algo parecido acontecesse por aqui, afirma, teríamos problemas generalizados.

– A maconha está relacionada a uma piora do rendimento escolar, da memória, de concentração. Estudos na Nova Zelândia mostram queda no Quociente de Inteligência (QI) de quem usou na adolescência. Aumenta risco de transtorno psicótico – afirma Laranjeira.

– É um impacto que vai dar medo – avalia a psiquiatra Ana Cecília Marques, professora da Unifesp e presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead).

Diz ela que outro trabalho acadêmico, este americano, apontou que consumidores de maconha apresentaram maiores índices de depressão, esquizofrenia e abandono acadêmico, na comparação com quem não tem o hábito de fumar a erva. Trata-se de um quadro definido como transtorno mental definitivo pelo deputado federal Osmar Terra (PMDB-RS), médico e autor de projeto de lei conhecido como lei antidrogas. Aprovado na Câmara e à espera de apreciação no Senado, o texto prevê internação compulsória de usuários para desintoxicação, com prazo máximo de 90 dias. Segundo Terra, que já foi secretário estadual de Saúde, a média para “limpar” o organismo de drogas, no Estado, leva 21 dias. E ainda há riscos de recaída devido à abstinência. Por isso, o temor da legalização da maconha.

– Vamos ficar com um exército de jovens dependentes químicos – projeta.

Alerta na saúde

Para Terra, o tráfico fica em segundo plano diante da questão da saúde. Mas nem por isso acaba esquecido. Conforme o delegado da Polícia Federal Cezar Luiz Busto de Souza, coordenador geral de Polícia de Repressão à Droga, 70% do mercado brasileiro de maconha é abastecido pelo Paraguai. Nas palavras dele – que prefere não se posicionar sobre a legalização –, trata-se de “uma droga que preocupa demais”.

Mais: tanto Terra quanto o psiquiatra Laranjeira projetam crescimento do mercado ilegal pela simples premissa de que o traficante cobraria menos pela maconha, em relação a quem paga imposto e vende com nota fiscal. Também questionam como seria fiscalização, inclusive das plantações caseiras. Em resumo: nasceria o descontrole.

– Não estamos falando de uma plantinha, mas de dinheiro, poder. O Brasil tem clima para plantar maconha até no meu apartamento – afirma a psiquiatra Ana Marques.

O psiquiatra gaúcho Sérgio de Paula Ramos, consultor da Abead, palestrou há três semanas no Congresso uruguaio. E garantiu: a liberação do consumo de maconha vai fortalecer o narcotráfico. Ele ressaltou que não se trata de “achismo”, mas de estatística: em Portugal, que há 12 anos liberou o porte da marijuana, o consumo dessa erva dobrou. E o de outras drogas passou de 7% da população para 12%, ressalta Ramos. Outros países que tinham adotado legislação liberal, como a Inglaterra, voltaram atrás e agora proíbem o consumo da maconha, diz o médico.

– Me parece que o capitalismo selvagem vê o Uruguai como um grande laboratório para negócios. Uma porta para venda legalizada de drogas. Esses são os fatos, o resto é poesia – conclui Sérgio de Paula Ramos

Geração de debates

Abreu diz que pensou em tentar vaga na Câmara dos Deputados pelo PT, ano que vem, com a bandeira da legalização. Desistiu porque, conta, meio fanfarrão, meio sério, “o problema é se eu ganhar: não posso ficar quatro anos sem atuar (como ator)”. Mesmo sem um cargo legislativo, ele não se esquiva de defender aspectos positivos que surgiriam a partir da erva livre, como o enfraquecimento do tráfico. O raciocínio é simples:

– Quem não quer a liberação ou a organização desse tráfico são os traficantes, o pessoal que ganha dinheiro com droga.

Não seria a realidade dos usuários, diz Abreu. Hoje, muitos deles flagrados com pequenas quantidades de maconha ainda são confinados em presídios, ocupando vagas destinadas a quem assalta e mata.

Na nova realidade, diz Soninha, o governo atuaria não para impedir uma transação comercial, mas a fim de combater desvios. E a criminalidade cairia. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) não arrisca previsão, embora tenha dúvidas se o mercado criminoso necessariamente ganharia com a maconha livre. Nesta segunda-feira, ele irá ao Uruguai para “estudar bem a experiência” que vê “com bons olhos”. Sobre legalização no Brasil, afirma o seguinte:

– Estou aberto para debater o tema.

As conversas devem ser longas. Para Soninha, a maconha ainda levará uma geração até ser liberada no Brasil. José de Abreu crê ser difícil o governo federal abraçar a bandeira. Sobre isso, comenta, bem-humorado:

– Transatlântico não faz curva fechada.

POR QUE SIM

As palavras a seguir constam em um artigo assinado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em referência à própria atuação na Comissão Global de Política sobre Drogas: “Apoiamos a busca de modelos de regulação legal porque acreditamos que reduzirão o poder do crime organizado e ajudarão a proteger a saúde e a segurança das pessoas”. Foi o texto no qual FH declarou adesão à legalização da maconha pelo Uruguai e reconheceu o fracasso das políticas de proibicionismo, um meio de “desperdício de recursos públicos inestimáveis”.

Quer dizer: se não adianta reprimir, melhor buscar alternativas. E a mais adequada delas, segundo os defensores da causa por aqui, seria tirar a erva da ilegalidade, torná-la controlada, enfraquecer o crime organizado privando-o de uma fonte de recursos explorada em regime de monopólio.

O conjunto desta obra formou um lobby bem organizado, fato reconhecido até por quem tem pesadelos com a maconha livre. A causa angaria apoio de figuras públicas, principalmente na classe artística, mas encontra certa resistência em políticos. Principalmente porque ainda há muito conservadorismo, afirma a jornalista Soninha Francine, candidata a prefeita de São Paulo pelo PPS nas eleições de 2012. Ela compara a maconha à adoção do divórcio, em 1977. Aprová-lo, lembra, seria inimaginável. Mas aconteceu e, hoje, ninguém se recorda da polêmica.

– Não vejo outro caminho, pela dimensão do Brasil, a não ser trazer (a maconha) para o nosso mundo, das leis – opina Soninha.

Ela elogia e defende o modelo uruguaio. Não vê problemas em, no Brasil, incluir a erva em um regime de produção agrícola, com normas, rotulagem, controle. Seria um produto como qualquer outro, com nota fiscal e arrecadação de impostos. Soninha pondera: pode haver danos à saúde — e o paralelo vale para cigarros e bebidas alcoólicas. Daí a necessidade de se enquadrar a maconha em uma série de obrigações, com restrições de venda para menores, consumo e publicidade.

Um modelo assim já é realidade em Washington e Colorado, nos Estados Unidos, e quase duas dezenas de outros Estados permitem o uso medicinal da maconha. A legalização parcial, como o viés medicinal americano, é considerada hipocrisia pelo ator José de Abreu, da Rede Globo, que está entre os artistas sem receios de abordar o tema.

– Já que é impossível lutar contra, melhor assumir – prega.

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Zero Hora

Bad Trip do Deputado Osmar Terra ao Uruguai

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Deputado Osmar Terra tomou um chá de cadeira de pelo menos meia hora.

Em sua viagem, deputado Osmar Terra tomou um chá de cadeira de pelo menos meia hora enquanto legisladores uruguaios decidiam o que fazer com ele.

Jornais brasileiros e sul americanos noticiaram, no fim-de-semana retrasado, que o Deputado Federal Osmar Terra, autor do criticado Projeto de Lei Nº 7.663/2010, estava de partida para o Uruguai, com a impávida missão de frear a legalização da maconha na Suíça latino americana.

Poucos sabem, entretanto, que o deputado brasileiro ficou meia-hora aguardando o início da sessão da Comissão de Saúde Pública do Senado uruguaio, enquanto se discutia, a portas fechadas, se a comitiva brasileira seria recebida na sala de estar ou na cozinha do Senado. Ou se a visita seria formal, ou informal.

Esta é a informação que temos com a leitura da transcrição taquigráfica da sessão da Comissão de Saúde Pública do Senado Uruguaio, do dia 05 de novembro de 2013, que mostrou o mal-estar provocado pelo visitante e pelos rumores midiáticos que antecederam sua visita.

Legalizacionistas e abolicionistas brasileiros e sul americanos, preparem um chá, pois o de cadeira já foi servido ao senhor deputado proibicionsita, Osmar Terra, que registrou na memória política brasileira a maior bad-trip diplomática contemporânea.

Leia abaixo a transcrição:

 

MACONHA E SEUS DERIVADOS
_________

Versão taquigráfica da sessão da Comissão de Saúde Pública do Senado Uruguaio, do dia 05 de novembro de 2013, que recebeu informalmente o Deputado Proibicionista Osmar Terra.

Presidente: Senhor Senador Alfredo Solari (Presidente)
Membros: Senhora Senadora Constanza Moreira e senhores Senadores Ernesto Agazzi, Roberto Conde, Luis J. Gallo e Carlos Moreira
Assistência: Diretor da Área de Gestão Legislativa, senhor César González
Secretária: Senhora Susana Rodríguez
Pro- Secretário: Senhora María José Morador

 

SENHOR PRESIDENTE – Tendo quórum, está aberta a sessão.

(São 17 horas e 6 minutos.)

– A Comissão de Saúde Pública do Senado se reúne com o propósito de continuar com a consideração da Carteira nº 1288/2013,  “Maconha e seus derivados”.

No dia de hoje temos como convidados o Sr. Deputado Federal do Brasil, Osmar Terra; o subprocurador do Estado do Rio Grande do Sul, Dr. Marcelo Dorneles, e o Dr. Sérgio de Paula Ramos, especialista com vasta experiência na área relacionada a dependências.

Segundo me comunicou o Senhor Senador Gallo, o Senhor Senador Conde deseja fazer uma exposição prévia.

SENHOR CONDE – A proposição que quero fazer consiste no seguinte: estivemos considerando com muita preocupação uma série de publicações que foram aparecendo na imprensa desde sexta-feira passada. Tenho aqui algumas, mas não sei se são as únicas.

Neste sentido, o jornal El País publica uma nota em que diz: “Uma missão brasileira, integrada por um deputado federal, um procurador e um assessor da presidenta Dilma Rousseff, chegará na próxima semana a Montevidéu buscando frear a aprovação do projeto de legalização da maconha”. Reitero, esta nota foi publicada pelo jornal El País na sexta-feira ou sábado.

Uma publicação adicional diz: “Legislador do Brasil apresentará no Uruguai desacordo com a legalização da maconha”. Ademais, afirma que o Senador Gallo: “negou que o político represente o governo do Brasil”.

Em um terceiro artigo se publica: “Secretário de Drogas do Brasil desmente tentativa de ‘frear’ lei uruguaia”. Quer dizer que há um desmentido por parte do Secretário Nacional de Políticas sobre Drogas do Estado Federal do Brasil, senhor Vitore Maximiano.

Em outra publicação – que creio é do dia 04 de novembro, vou verificar a data, se diz que o saneamento e a maconha atraem autoridades brasileiras ao Uruguai.

Enfim, todas essas publicações criaram a imagem pública de que autoridades do Brasil estariam tentando discutir com o parlamento uruguaio temas relacionados com a lei de regulação da Cannabis que estamos tratando.

Se assim for, isso poderia ser considerado não como uma ingerência em nossos assuntos, porque, em última instância, se quiséssemos, poderíamos convidar alguma personalidade estrangeira para discutir determinado tema, mas deveríamos fazê-lo através dos canais diplomáticos apropriados, no caso de representarem algum poder de um Estado estrangeiro.

Por outro lado, não podemos aceitar que se gere esta informação pública de que aqui há uma atitute de atores políticos, tanto por parte do Estado Federal como do Estado do Rio Grande do Sul, tratando de influenciar nosso processo de discussão nacional sobre esta lei.

Portanto, senhor Presidente, nós nos vemos totalmente impossibilitados de receber esta delegação em uma reunião oficial desta Comissão. Se o senhor Presidente quer considerá-lo, estaríamos dispostos a recebê-los em um encontro informal – inclusive, pode ser nesta mesma sala – de maneira que não fique registrado como sessão oficial da Comissão de Saúde Pública do Senado. Podemos dialogar, trocar opiniões, tomar nota do que querem nos dizer, mas sempre no plano de um encontro informal de troca de opiniões. Não podemos aceitar seu comparecimento em uma reunião oficial desta Comissão, porque constituiria um fato formal que significaria, nada mais, nada menos, que terem sido recebidos pelo Senado da República, já que, em definitivo, esta Comissão está aqui representando esta Câmara. Ademais, não só acreditamos que não devemos nos prestar a um mal-entendido desta natureza, senão que formalmente não é a via correta de processar um comparecimento deste tipo. Insisto em manifestar nossa vontade de participar do diálogo – não é nosso objetivo nos negar a trocar opiniões, mas fora de todo marco formal de funcionamento da Comissão.

Estas são os fundamentações que queria assinalar.

SENHOR PRESIDENTE – Escutei com muita atenção a proposição que fez o senhor Senador Conde, que mencionou uma série de notas de imprensa; não fez referência a alguma manifestação expressa de um integrante desta Comissão, salvo uma referência ao senhor Senador Gallo, que está em todo seu direito de fazer as declarações à imprensa que quiser, assim como também cada um de nós tem o mesmo direito.

Se é que entendi bem a colocação, com base nesses rumores de imprensa – os chamemos assim – é que a bancada oficial de desdiz com relação a uma decisão prévia. Me refiro a que quando chegou a nota do Deputado Federal Osmar Terra pedindo ser recebido por esta Comissão – pelas razões que ele expôs em seu e-mail e que esteve em poder de todos os integrantes desta Comissão, se votou por unanimidade recebê-lo nesta Comissão de Saúde e não de maneira informal. Me parece uma descortesia muito grande para com um legislador de um país amigo do Uruguai dizer: “Olha, nós lhe dissemos que viesse para se reunir com a Comissão de Saúde, mas agora não o vamos receber na sala, mas vamos recebê-lo na cozinha, pois verifica-se que houve uma série de murmúrios no bairro que dizem que o senhor vem nessa condição e não nesta outra”. Repito: me parece que seria uma descortesia muito grande, mas se essa é a opinião da maioria, vou pedir que se coloque em votação. Nesse caso, eu vou conversar com eles para lhes transmitir qual é o espírito da maioria dos integrantes desta Comissão, que não compartilho, e veremos se eles estão de acordo em ter esse diálogo informal.

SENHOR MOREIRA – Concordo com o expressado pelo senhor Presidente. Creio que pensar que isso significa uma intromissão indevida nos assuntos de uma Comissão deste Corpo é um excesso, especialmente se tem-se em conta que isso não foi o que se entendeu quando se levantou em forma primária o tema e se votou afirmativamente. Então, me parece que é errado não receber esta gente, depois que pede ser recebida e se vota afirmativamente, por murmúrios de imprensa que, como sabemos, nem sempre refletem a realidade. Se nos guiássemos por eles, muitas vezes não saberíamos qual é o caminho correto a tomar, porque a imprensa é livre para interpretar as coisas como quer.

Li a maioria das versões taquigráficas, incluídas as das audiências desta Comissão e posso dizer que sempre se atuou com um critério de abertura e amplitude. Na comissão da Câmara dos Deputados receberam técnicos holandeses, que falaram com muito entusiasmo, e de algumas organizações internacionais. Então, me parece que o comparecimento de um parlamentar brasileiro para brindar sua posição – ademais, creio que sabe do tema – não é um excesso nem uma intromissão.

A meu juizo, votar desta forma tende a dramatizar uma coisa que não tem nada de dramático, porque creio que todos que estamos aqui temos uma posição formada sobre este projeto de lei e o que diga este representante não a vai alterar. De modo que está bem que se vote, mas adianto que vou fazê-lo para que o receba a Comissão e, se triunfa a tese contrária, os senhores convidados decidirão que atitude tomarão. Pessoalmente, considero que devemos recebê-los como Comissão, representando institucionalmente o Senado da República em um tema tão sensível e tão opinável.

SENHOR AGAZZI – Como disse o senhor Presidente, consideramos este ponto na última reunião da Comissão, depois que se distribuiu de forma correta a solicitação de serem recebidos, mas creio que não houve uma votação, porque normalmente não é assim que se procede. Considero que aqui há um acordo de receber na Comissão aqueles que o solicitam, independentemente da posição que tenham – sempre concorrem delegações que estão a favor de uns e contra outros e vice-versa, porque o espírito que sempre primou é o de ter a maior amplitude. Agora, o que não discutimos – porque não podíamos prever o que ía acontecer – é tudo o que aconteceu depois. Pensávamos que se trataria do comparecimento de pessoas que estão trabalhando sobre este tema para nos dar seus pontos de vista e nos brindar uma informação que, inclusive, nos pode ser útil. Esse foi o espírito com o que apoiamos receber o senhor Terra. Não podíamos prever o que sucedeu depois; agora estava lendo a imprensa boliviana que menciona a interferência do governo brasileiro sobre o Uruguai e me chamou a atenção – essa coisas agora se distribuem muito rápido, de modo que começa a ter uma implicância internacional que, francamente, creio que nenhum de nós imaginou na última reunião que tivemos.

Na verdade, na Câmara dos Deputados se recebeu muitas pessoas, inclusive estrangeiros, mas sempre foram organizações ou ONGs ligadas à temática das drogas com distintas posições, mas nunca funcionários de outro Governo, como é o caso dos funcionários do Poder Legislativo da irmã República Federativa do Brasil, pelo que isso não tem nada a ver com o nosso espírito de amplitude. Pessoalmente, consultei o Ministério das Relações Exteriores sobre essa situação para saber que informação tinham da Embaixada do Brasil no Uruguai. Posso dizer que essas pessoas não vieram em caráter de funcionários do Governo brasileiro, o que nos alegra muito, mas há uma grande confusão, inclusive, em nível internacional.

Por tal motivo, nossa posição é aproveitar sua vinda e ademais agradecê-los sua presença para dar seu ponto de vista, porque isso é natural e positivo. O que não podemos permitir é que o Senado da República Oriental do Uruguai receba funcionários de outro Governo simplesmente porque o solicitam, pois isso abriria um precedente. Normalmente, funcionários de outros Governos não solicitam concorrer às Comissões Parlamentares, pelo que esta é uma situação nova para nós.

Talvez estejamos impulsionando uma posição intermediária – aproveitando a boa vontade desses políticos e técnicos – já que desejamos manter nosso espíruto de abertura, mas não devemos incluí-lo dentro do funcionamento formal do Palácio Legislativo porque entendemos que não é nossa competência tomar decisões nesse sentido.

Simplesmente desejava agregar alguns elementos sobre a postura  que temos a este respeito.

SENHOR PRESIDENTE – Desejaria que esta sessão da Comissão não se transformasse em uma reunião para discutir procedimentos, mas que falássemos sobre o mérito da questão.

SENHOR CONDE – Não desejo entabular uma polêmica, mas sintetizar nossa posição em uma frase para que fique nitidamente expressada na versão taquigráfica.

Nos vemos obrigados a ter o gesto de receber a delegação brasileira porque foi formada opinião pública a este respeito e nós não somos os responsáveis; não demos notas à imprensa, e inclusive não nos interessou dialogar com ela sobre isso. Há três dias, foi formada opinião pública que permite crer que a população foi mal informada ou confundida, fazendo-se entender que há alguma ação oficial do Governo do Brasil para interferir no debate sobre a Cannabis no Uruguai.

A fim de que não fique a menor dúvida de que não tem havido nenhuma ação oficial do Governo do Brasil e de que se a tivesse havido, não a teríamos aceitado, não temos mais remédio a não ser receber a delegação nessas condições informais para afastar ou evitar qualquer tipo de dúvida que se há gerado.

Repito: não somos responsáveis ​​pela campanha de desinformação pública que se foi produzida nos últimos dias.

SENHOR PRESIDENTE – Vou fazer duas pontualizações para que constem na versão taquigráfica e, logo depois, convidaremos a delegação estrangeira para iniciar a reunião.

Em primeiro lugar, o senhor Deputado Osmar Terra – deputado federal pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro – era tão Deputado pelo Governo Federal quando acordamos em recebê-lo, como hoje. Sua situação de funcionário de um governo estrangeiro não mudou.

Em segundo lugar, não tenho absolutamente nada a ver com os rumores de imprensa, a única transcrição que fez o senhor Senador Conde em sua exposição inicial, pertence ao senhor Senador Gallo, não a quem fala. E mais, em meus tweets escrevi: “O Uruguai decide: nem Soros, nem Dilma”.

Desejava fazer estas duas pontualizações porque me parecem de ordem. Digo isso, dado que a Bancada oficial insiste com o caráter informal.

Agora bem, vamos convidar os senhores visitantes a entrar, porque me parece umas descortesia tê-los meia-hora esperando lá fora.

 

Tradução por André Kiepper

Fonte: Câmara de Senadores do Uruguai

Osmar Terra paga mico no Uruguai e em troca tem site hackeado

Charge de Carlos Latuff sobre a vergonhosa viagem do vergonhoso Deputado Osmar Terra.

Charge de Carlos Latuff sobre a vergonhosa viagem do vergonhoso Deputado Osmar Terra.

Autoridades do país vizinho, porém, não pretendem recuar na medida.

Uma delegação de autoridades brasileiras esteve em Montevidéu nesta terça-feira (05) para advertir parlamentares do Uruguai sobre os supostos perigos de legalizar a produção e o comércio de maconha. A intenção, na realidade, era convencer os uruguaios a frear a tramitação do projeto de lei que prevê a regulamentação do mercado da erva. A comissão foi encabeçada pelo deputado federal Osmar Terra (PMDB-RS), médico e ex-secretário da saúde do Rio Grande do Sul.

A medida, que já foi aprovada pela Câmara dos Deputados uruguaia e aguarda votação no senado, está recebendo duras críticas das bancadas mais conservadoras do Congresso Nacional brasileiro. Autoridades tupiniquins, como o próprio Osmar Terra, temem que o Brasil se torne mercado consumidor da maconha do país vizinho, ignorando o fato de que a cadeia produtiva será totalmente controlada pelo Estado uruguaio. “O Uruguai tem população equivalente à da capital do estado (RS). Vão produzir lá e o tráfico trará a droga para cá, será difícil controlar as fronteiras”, disse Osmar Terra, em Montevidéu.

No Uruguai, as opiniões divergem dos deputados brasileiros. O próprio presidente José Mujica se diz abertamente favorável à regulamentação do mercado de maconha. Já o secretário da Presidência e presidente da Junta Nacional de Drogas, Diego Cánepa, disse nesta semana durante a visita da comissão brasileira que “há um convencimento do governo para não insistir em uma política que até agora não deu os resultados esperados”. Cánepa também agradeceu qualquer contribuição que tenha sido dada ao debate sobre a questão das drogas, embora tenha ressaltado que a solução para o tema passa por um mercado fortemente regulado, com regras sobre o comércio e que proíbe a publicidade nos meios de comunicação. Ou seja, apesar da tentativa de influência tupiniquim, o governo uruguaio deixou claro que não pretende voltar atrás na decisão de legalizar a produção e comércio de maconha para reduzir o poder do narcotráfico.

Para debater o assunto com o objetivo de influenciar a opinião num país estrangeiro, o nobre deputado Osmar Terra é o primeiro a se prontificar.  Já para debater as políticas de drogas no próprio país, o parlamentar sempre dá um jeito de escapar. Foi o que aconteceu em Maio desse ano, ao recusar o convite para participar do Congresso Internacional sobre Drogas (CID 2013), que aconteceu em Brasília. Na ocasião, o evento reuniu diversos especialistas nas áreas da saúde, segurança pública, sociologia e direito. Seria no mínimo obrigação do Osmar Terra ter aparecido no Congresso, já que ele é autor do PL 7663/2010 que pretende endurecer a lei de drogas no Brasil, aprovado pela Câmara naquele mesmo mês de maio. O projeto de lei precisa passar pela aprovação dos senadores. É ou não é uma verdadeira vergonha alheia?

Deputado teve seu site hackeado por legalizadores que postaram uma entrevista "fake" bastante esfumaçada.

Deputado teve seu site hackeado por ativistas que postaram uma entrevista “fake” bastante esfumaçada.

Como consequência dessa viagem absurda, na tarde desta quarta-feira o site do deputado Osmar Terra foi invadido por hackers, que postaram uma suposta entrevista concedida pelo deputado. É uma entrevista fictícia, mas está hilária. Você pode acessar o site do deputado ou leia abaixo:

“Osmar Terra concede entrevista a Ricardo Cockdick”

Osmar Terra tem criado polêmica ao falar sobre “drogas” e fazer linha grossa frente ao tráfico e ao uso de entorpecentes. Mas muito além disso, Osmar Terra descobriu o prazer de uma das maiores iguarias do mundo. Em sua viagem ao Uruguai, Osmar sentou com Mujica para protestar contra a liberação da “verdinha”, e acabou mudando de opinião.

 Veja nessa entrevista exclusiva com Ricardo Cockdick.

 Ricardo Cockdick:  Osmar, o que aconteceu na reunião com Mujica?

 Osmar Terra:  Sentei com ele para saber o que estava acontecendo e as razões para o Uruguai legalizar a tal da maconha. Não deu outra, Mujica acendeu aquela “tronca” como ele disse e me ofereceu.

 Ricardo Cockdick:  E o senhor aceitou?

 Osmar Terra:  O cheiro estava muito bom, de mato, verdinho. Ele olhou para mim e disse “Tu não quieres la verdita? És cosita muy boa. Kunkzinho”, eu então decidi experimentar essa sensação nova.

 Ricardo Cockdick:  Como foi essa experiência?

 Osmar Terra:  Achei fantástica! Primeiro tive aquela sensação de leveza, depois fiquei tranquilão e então pra fechar comi 2 pratos daquele almoço incrível. A gente até riu da situação. Agora eu faço cultivo em casa e mando um, mas só nos finais de semana né.

 Ricardo Cockdick:  Muito bom, Osmar, bate bola jogo rápido ok?

 Osmar Terra:  Pode me chamar de Osmaneiro agora.

 Ricardo Cockdick:  Celebridade.

 Osmar Terra:  Bob Marley.

 Ricardo Cockdick:  Banda.

 Osmar Terra:  Planet Hemp, adoro aquela música, esqueci o nome. “D2 iiiih, preste atenção, rapaziada que não aguenta o poder da missão, isso é nã nã nã NÃ.” por ai.

 Ricardo Cockdick:  Frase.

 Osmar Terra:  “Vou apertar, mas não vou acender agora”. Gênio. Mito. Ponto Final.

 Ricardo Cockdick:  Empresa.

 Osmar Terra:  Dutch Passion, adoro a tal da Euforia deles, plantei uma vez e fiquei chapadão.

 Ricardo Cockdick:  Hobby.

 Osmar Terra:  Fingir que sou durão, que o mundo vai ser melhor reprimindo usuários de drogas, mentir pra mim e para todos dizendo que maconha é a porta de entrada sendo que eu SEI e TENHO CERTEZA que a porta de entrada é o álcool. Mas o que eu gosto mesmo é de por fogo na tronca.

 Ricardo Cockdick:  Obrigado osmaneiro.  

 Osmar Terra:  Por nada Ricardo, agora passa a bola ô mão de cola.

 

Apesar de ser um simples post no blog em seu site, este é um dos recados mais fortes que poderia ter recebido: estamos em cima! Não esquecemos do seu monstruoso PLC 37/2013 e não vamos aceitar que ele se concretize. O maior retrocesso da história da nossa política de drogas está para ser votado pelos nossos senadores e não vamos facilitar as coisas para os proibicionistas. A invasão não foi assumida por nenhum coletivo, mas com certeza os ativistas que o fizeram estão de parabéns. Este episódio épico jamais será esquecido pelo deputado. Quem dera ser uma mosquinha e estar presente no momento em que o Osmar Terra abrir seu site e se deparar com essa entrevista!

 

 

Debatedores discordam sobre políticas antidrogas

CCJ - Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania

Audiência pública da CCJ ontem mostrou que não há consenso, entre especialistas, sobre proposta que prevê internação involuntária de dependentes químicos e aumento de pena para traficantes

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) pode ter dificuldade para chegar a um consenso em torno do projeto (PLC 37/2013) que altera o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad). Isso ficou claro na audiência pública de ontem, em que as medidas de internação involuntária de usuários de droga e de ampliação da pena imposta a traficantes foram criticadas.

— A loucura e a dependência não se tratam com segregação. É preciso avançar com uma legislação que diminua o ­encarceramento — afirmou Alice De Marchi, representante da ONG Justiça Global.

Além de reivindicar uma caracterização clara, na lei, do usuário e do traficante, o advogado Cristiano Maronna, da Rede Pense Livre, disse que o incentivo ao encarceramento vai reforçar a tendência de ver “o pobre como traficante e o rico como usuário”.

Maronna considerou inconstitucional a ampliação da pena — de 8 a 15 anos de reclusão — para o traficante no ­comando de organização criminosa.

— A pena por homicídio doloso simples é de seis anos de encarceramento. Como é possível a pena [para o tráfico] ser maior do que matar alguém? — indagou.

Os médicos Dartiu Xavier da Silveira, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e Miriam Abou-yd, da Rede Nacional Internúcleos de Luta Antimanicomial, questionaram a internação involuntária de dependentes químicos.

— Não sou contra a internação. Sou contra a internação como política pública — ­ressaltou Silveira.

Miriam discordou também do “acesso privilegiado” que o projeto destina às comunidades terapêuticas na rede assistencial a usuários de drogas. O secretário nacional de Política sobre Drogas do Ministério da Justiça, Vitore Maximiano, explicou que o projeto proíbe a internação nessas instituições. A atuação delas, porém, é vista como complementar ao atendimento ambulatorial, política assistencial considerada prioritária. De acordo com ele, a expectativa do governo, que já financia 2 mil vagas em 80 comunidades terapêuticas, é ofertar 10 mil vagas.

O projeto foi defendido pelo autor, deputado Osmar Terra (PMDB-RS). Para ele, a proposta traz uma visão de saúde pública voltada ao combate de uma “gravíssima epidemia”. Assim, o aumento da pena para o traficante líder de organização criminosa teria como objetivo reduzir a circulação de drogas.

Em relação à internação involuntária, ele disse que seria um recurso para o usuário que não tem mais consciência dos próprios atos e que precisa ser ajudado pela família. O texto prevê que esse tipo de internação dependa de autorização médica e que seja limitado a 90 dias. Terra defendeu as comunidades terapêuticas como importantes para manter a abstinência prolongada.

Humberto Costa (PT-PE) e Eduardo Suplicy (PT-SP) observaram que, como questão de saúde pública, o tratamento de ­dependentes químicos não deveria ser abordado em proposta sobre repressão ao tráfico. A audiência pública foi presidida por Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), relator do PLC 37/2013 na CCJ.

Fonte: Jornal do Senado